O telemóvel despertou à hora marcada, raiava o dia quando fomos tomar o pequeno almoço. Sem apetite, àquela hora. Se fosse para ír trabalhar, certamente custaria mais, quem corre por gosto não cansa. O autocarro não nos fez esperar, e fomos o primeiro grupo a embarcar. Ainda passamos por mais dois hotéis nas redondezas para ír apanhar mais excursionistas para o Deserto do Sahara. O guia, um tunisino alto e perfeito exemplar da raça árabe, era simpático. Trazia um bigode a "Don Juan", mas era mesmo só esse acessório, foi durante todo o tempo muito profissional. Deu-nos logo toda a informação necessária, enquanto o autocarro saía de Hammamet, sobre a duração do percurso, horário das paragens para visitas a locais de interesse e outras, de ordem técnica. Assim, enquanto a cidade ficava para trás, íamos recebendo a informação sobre as aldeias que cruzávamos e confirmando a mutação paisagística. De um verde, de muitas hortas e olivais (há muita agricultura no Norte), levemente a terra ía-se tornando mais árida e seca. Aqui e ali viam-se rebanhos de ovelhas e cabras, velhas casas, e junto à berma da estrada vendedores de fruta, aves vivas e outros artigos. A via era estreita, uma faxa de rodagem em cada direcção e o tráfego muito intenso. A via para sul que estavamos a percorrer, era o caminho utilizado pelos veículos de mercadorias pesados para o tráfego com a vizinha Líbia, de Mohamar Khadafi (fronteira a sul). Assim, muito frequentemente os passageiros, nós incluídos, viamo-nos a travar com os pés, numa tentativa de ajudar o motorista, tal eram as ultrapassagens mal feitas e perigosas. A velocidade de circulação não era nada coincidente com o estado e condições da via. Mas na Tunísia é assim. E o guia explicou-nos que há pouco acidentes no país, e maioria deles são provocados pelos vizinhos líbios e argelinos. Como nós, desculpamo-nos sempre com a condução dos italianos, espanhóis, etc. Afinal o mesmo argumento de sempre. A primeira paragem, foi em El Jem, onde se localiza o terceiro maior e o mais bem conservado anfiteatro romano (o primeiro e segundo são em Roma e Verona, respectivamente).
O sol estava no seu limite, já tinha dado as horas habituais e nós pusemos-nos a caminho de Tozeur, para o hotel Iberostar Palmyre. Quando chegamos, já era noite, e ainda tivemos tempo de tomar um duche rápido antes do jantar. O jantar foi óptimo, aliás como todo o hotel. O pessoal, todos muito simpáticos e prestáveis, emfim, um hotel cinco estrelas, como se idealiza. Mas este só tinha quatro.O critério de atribuição de estrelas, deixa muito a desejar, em qualquer canto do mundo, digo eu.
O recolher neste dia foi cedo, uma vez que o despertar seria às 4:00 da manhã, para prosseguirmos nesta cruzada pelo deserto.
Este monumento data do terceiro século a.c. e foi um dos últimos construído pelos Romanos. A sua arquitectura, no que toca aos corredores internos, sistema de entrada e saídas e a disposição dos lugares para os espectadores, é bastante elaborada. Após a era romana, foi utilizado como uma fortificação, principalmente durante a conquista árabe. Como palco de muitas batalhas, foi parcialmente destruído pelos canhões. Tinha uma lotação para 27.000 espectadores e a arena um diâmetro de 64m x 39m. Mas é impressionante, vaguear pelas galerias deste monumento e imaginar as pessoas e trajes do tempo, os animais e escravos a degladiarem-se na arena, os apupos e ovações. À entrada afinal compra-se uma viagem no tempo. Na porta de acesso tivemos que pagar 2 Dt para se poder fotografar, o bilhete já estava incluído no preço da excursão. Não conseguimos verificar o montante, uma vez que para grupos há tarifas especiais.
À volta deste polo de interesse, muita gente sobrevive do turismo. Quando caminhavamos para a entrada, puseram-nos um mapa e uns postais na mão e pediram-nos dinheiro. Sem tempo para argumentar ainda tentamos saber o preço, em vão; tirei umas moedas do bolso e o mercador toca de tirar-me das mãos, assim, sem mais nem menos. Fulmineio-o com o olhar, mas antes que praguejasse algo em bom português, devolveu-me algumas. Sinceramente não sabemos quanto custou o mapa e os postais. Mas acabaram por dar jeito para a viagem. Um outro ainda veio ao nosso encalce e diz-nos que vende um lenço bérbere, daqueles que se usam na cabeça, e um adereço para o prender, por 2 dinares. O preço era justíssimo (para nós claro), aceitamos. Assim que peguei nos artigos, o tipo afiançou-me que afinal não eram 2 mas sim 15 Dt. Imediatamente entreguei os artigos e continuei a caminhar, apressadamente. O bom vendedor veio a correr atrás de mim, baixando o preço, para 12, 10, 8 e eu, sem dizer nada, agarrei novamente nos artigos e em espetei com 2 Dt na sua mão e desatamos apressadamente a andar enquanto o homem, sem reacção, viu-nos a ganhar distância.
À volta deste polo de interesse, muita gente sobrevive do turismo. Quando caminhavamos para a entrada, puseram-nos um mapa e uns postais na mão e pediram-nos dinheiro. Sem tempo para argumentar ainda tentamos saber o preço, em vão; tirei umas moedas do bolso e o mercador toca de tirar-me das mãos, assim, sem mais nem menos. Fulmineio-o com o olhar, mas antes que praguejasse algo em bom português, devolveu-me algumas. Sinceramente não sabemos quanto custou o mapa e os postais. Mas acabaram por dar jeito para a viagem. Um outro ainda veio ao nosso encalce e diz-nos que vende um lenço bérbere, daqueles que se usam na cabeça, e um adereço para o prender, por 2 dinares. O preço era justíssimo (para nós claro), aceitamos. Assim que peguei nos artigos, o tipo afiançou-me que afinal não eram 2 mas sim 15 Dt. Imediatamente entreguei os artigos e continuei a caminhar, apressadamente. O bom vendedor veio a correr atrás de mim, baixando o preço, para 12, 10, 8 e eu, sem dizer nada, agarrei novamente nos artigos e em espetei com 2 Dt na sua mão e desatamos apressadamente a andar enquanto o homem, sem reacção, viu-nos a ganhar distância.
Após a visita, tivemos tempo para fazer umas compras e beber um café ou chá. Mas notava-se que até os cafés eram muito improvisados, não havia café normal, só nescafé, que era servido em pequenos copos de higiéne muito duvidosa. Pareciam ter sido lavados com areia, um brilho opaco, se é possível descrever o quadro. Deixamos este local, agora rumo a Matmata, passando por Sfax e Gabes. Durante este trajecto, ficamos a saber que a Tunísia é o 3º maior produtor mundial de azeitona e azeite, depois da Espanha e Itália, desconhecendo entretanto com que qualidade. O sector dos recursos naturais, com potássio, gás natural e petróleo, têm um peso significativo no Pib tunisino. Um apartamento mediano custa cerca de 45.000 Euros; o salário médio é de 250 Euros. Foi numa paragem técnica, enquanto pedia dois cafés expresso, que reparei que o motorista havia pedido algo, leb-leb, para nós desconhecido: numa tigela, tipo uma malga grande, juntaram legumes crús (curgetes, cenouras, pimentos, tudo aos pedaços), um pouco de atum desfiado, farinha de cuscus, alcaparras, azeitonas e um ovo mal escalfado, quase crú. Depois regaram-no com azeite e estava pronto, o motorista misturou os ingredientes e sorveu a iguaria à colherada, de uma forma que parecia não o fazer a séculos. A partir daqui e até ao almoço não paramos mais, avistamos Sfax e Gabes de relance, a partir da estrada. Neste percurso passamos por uma região (que não me recordo do nome) onde vimos peças inteeiras de borrego penduradas às portas dos restaurantes. O guia informarmou-nos que era típico desta região e muito apreciado pelos viagantes, a carne de borrego no churrasco, acompanhada com pimentos, cebolas e tomates também grelhados. Ficamos com pena de não ter testado esta iguaria, mas o restaurante para o almoço já estava marcado e pouco depois lá chagamos. O almoço foi servido: Uma entrada com salada e dois crepes de legumes, seguindo-se um prato de borrego com especiarias e cuscús (típico) e para quem não gostasse de cuscús podia comer esparguete como acompanhamento. Todos comeram de tudo, e quanto a nós, estava bem saboroso. Na tunísia não abusam tanto das especiarias como, das que conheço, na comida goesa, indiana ou mesmo mexicana. Para sobremesa a já habitual melancia, que é farta e muito doce neste país. Os cafés e bebidas não estavam no acordo, assim por um refresco e uma água, um café e um chá de menta, pagou-se 6 Dt. Seguimos viagem, desta feita entramos numa zona montanhosa e árida, tanto de um como de outro lado do percurso, era só pedra. De quando em vez, lá se viam um aglomerado de casas, a julgar pela sua organização, deveriam formar aldeias. Nesta zona, os habitantes, berbéres, pelo menos até um passado não muito longíquo, viviam em casas esculpidas na própria montanha, as chamadas estruturas trogloditas. Foi nestas paisagens que foram realizadas algumas filmagens de películas famosas como A guerra das estrelas.
Actualmente já poucas familías vivem nestas casas, algumas delas, a troco de alguns dinares abrem a porta das suas casas aos turístias para se poder observar de perto como foi a vida por estas paragens. Quando saímos do autocarro, a sensação que deu foi de que tinham aberto a porta de um forno pré-aquecido a 200 graus, e tinhamos que entrar. O ar era muito seco, custava um pouco a respirar. No entanto após penetrarmos no interior da habitação, a temperatura era incrível, parecia que estava climatizada. E estava, só que era naturalmente. Realmente, estes pequenos momentos realçam a elasticidade humana na adaptação. Sem grandes engenharias e tecnologias, num ambiente hóstil à condição humana, os bérberes adaptaram-se de uma forma espectacular. Antes de entrarmos, o guia avisou-nos que íriamos visitar a casa de uma familia que habitava ali. Muito sinceramente ficamos um pouco constrangidos. Achamos humilhante, uma pessoa abrir as portas do seu castelo a estranhos, por uns parcos dinares. Isto deixou-nos a pensar. Nisto veio-nos à ideia, que mais tarde se confirmou, que, pelo menos a familia em questão, não vive na casa, apenas se reúnem lá, para recriarem os modos e costumes das familias berbéres. Ficamos aliviados, de consciência um pouco mais tranquila, se se pode assim dizer. Ainda tive tempo de beber mais um chá de menta (fiquei fã desta bebida), que uma rapariga da família nos ofereceu. Não me fiz de esquisito, mas reparei nos copos: aquele mesmo aspecto, um brilho baço. Contra a maré das vontades, não nos alongamos muito neste local, retomamos o caminho em direcção ao Deserto do Sahara. Quando chegamos ao local, havia hipóteses de fazer o percurso no deserto montando um camelo ou de charrete, em ambos os casos com ou sem os trajes a rigor. Nós optamos pelos camelos e já que ali estavamos, também alugamos o vestuário típico bérbere. Este percurso, mesmo só para turísta ver, tem a duração de cerca de 50 minutos. Mas a paisagem é magnífica. Dá para imaginar o que nos espera para lá do nosso horizonte visual. Até uma espécie de oásis tinha. Foi giro, divertimo-nos bastante, como todo o grupo. Podemos dizer que só por estes momentos aqui passados, valeu, até agora toda esta viagem. Prosseguimos, já estavamos quase no final da tarde, no sentido de Tozeur, o local onde iríamos pernoitar. Neste percurso, atravessamos um grande lago de sal, que comprovadamente foi um mar, milhões de anos atrás. Ainda hoje se podem encontrar frequentemente fósseis de animais marinhos no seu solo. No local onde paramos para captar algumas imagens, refrescar e utilizar os toilletes, havia uma peuqena casa comercial que prestava esses e outros serviços, como por exemplo uma pequena loja com artigos da região: a rosa do deserto é uma rocha que parece uma rosa desabrochada, pode ter vários tamanhos e apresenta uma côr perto do côr-de-rosa. Adquirimos alguns exemplares, só mesmo para recordação, pessoalmente não achamos de grande interesse. Existe ainda no local, um monte de sal, não muito elevado, em que estão penduradas várias bandeiras nacionais. A nossa também lá está.O sol estava no seu limite, já tinha dado as horas habituais e nós pusemos-nos a caminho de Tozeur, para o hotel Iberostar Palmyre. Quando chegamos, já era noite, e ainda tivemos tempo de tomar um duche rápido antes do jantar. O jantar foi óptimo, aliás como todo o hotel. O pessoal, todos muito simpáticos e prestáveis, emfim, um hotel cinco estrelas, como se idealiza. Mas este só tinha quatro.O critério de atribuição de estrelas, deixa muito a desejar, em qualquer canto do mundo, digo eu.
O recolher neste dia foi cedo, uma vez que o despertar seria às 4:00 da manhã, para prosseguirmos nesta cruzada pelo deserto.
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