terça-feira, 14 de julho de 2009

Domingo, 28 de Junho

Acordamos, um pouco mais tarde do que vinha sendo habitual. Depois do pequeno almoço fomos um pouco à praia, pela última vez nestas pequenas férias. Ainda andamos às voltas pelas tiendas ali em redor do hotel, a fazer algumas compras. Para nós, valeu a pena, em termos de preços, comprar calçado, carteiras, malas, e outros artigos em pele. Os preços, embora regateados, são muito em conta. O maior problema que nos assolava, era o volume e o peso das compras, esse foi o nosso limite. Não que estivessemos a nadar em dinares, mas tudo que compramos, soube-nos a negócios da china. Depois do almoço, fomos pesquisar o que nos faltava de hammamet, na zona do hotel. Assim, rumamos a norte, para visitar a marina.
Esta, abriu-se para nós, como um local muito bonito. Nos ancoradouros, observamos belos iates e veleiros, que para leigos como nós, não ficavam atrás dos que víramos em viagens anteriores em Malta e Palma de Maiorca. Os edifícios envolventes, não espelhavam a arquitectura tradicional do país: aqui erguiam-se estruturas modernas, que actualmente não se podem atribuír a este ou aquele, são construções universais, exemplo da globalização. Paredes meias com os edifícios de serviços de apoio à própria marina, coexistem apartamentos e moradias que deixam transparecer algum luxo e um elevado nível de vida de quem as habita. De certa forma, e comparando com Portugal, podiamos dizer que estavamos em Vilamoura, não nos referindo às luxuosas mansões que no Algarve se podem vislumbrar. As ruas, em frente e em redor da marina, eram povoadas por arejadas e refinadas esplanadas, onde se encontram restaurantes, cafés, gelatarias, enfim, uma panóplia de serviços de restauração. Boutiques de vestuário e calçado da moda, surgem aqui e ali, disponibilizando os artigos e acessórios mais emergentes na actualidade. Aqui os preços não são regateáveis, e pelo aspecto dos frequentadores deste espaço, aparentemente são tunisinos de bem na vida. Como em todos os sítios, que os há, há!
Bem, para esta tarde, tinhamos em mente comprar até gastar todos os dinares que tinhamos, deixando muito poucos apenas para comermos qualquer coisa antes do embarque, às 7:00 da manhã de segunda-feira. Assim, foi: especiarias, sapatos, carteiras, óculos e relógios contrafeitos das melhores marcas que se encontram à venda (comprámos vários relógios omega, rolex, etc, ao preço da chuva, cerca de 5 euros). Forma cachimbos de água árabes, lenços de seda, chás, vestidos, enfim, acabamos por gastar mesmo mais do que tinhamos. Mas a maior preocupação, era o peso e volume da carga. Estavamos a ver que teríamos de alugar um camelo para transportar tanta coisa. E matamos a tarde nestas últimas e completas compras, onde se tentou arranjar presentes para os mais chegados. Ainda antes do jantar, encontramos os nosso companheiros de viagem do dia anterior e constatamos que 4 dos 6 elementos do grupo estavam com uma intoxicação alimentar, embora a minha não fosse nada de alarmante. Algo na magnífica refeição de ontem nos tinha dado a volta ao estómago, literalmente, andamos o dia todo a pintar a pistola. Mas nem isso nos tirou o voraz apetite, para a última ceia, que decorreu sem pressaltos. Acabamos a noite a beber chá de menta, na esplanada do hotel, ao som de música ligeira para dançar, que não atraíu muitos dançarinos. Era tempo de fazer um breve balanço dos dias que por aqui passamos; Positivo, apesar de sentirmos que os empregados do hotel poderiam e tinham obrigação de nos fazer sentir mais confortáveis, mas podia ser pior. Não é um destino para voltar brevemente, mas ficou muita coisa para ver. Hammamet, penso que está visto, e penso que não vale so Km que se andam só para fazer praia aqui. Temos praias, umas melhores outras piores e a temperatura da água, pelo menos a do Algarve é similar. Quanto ao resto, é diferente, ficamos com pena de não termos visto mais coisas, mas em 7 dias, para se aliar a descoberta ao descanso não foi mau. Fomos para a cama cedo pois tinhamos que nos levantar às 3:00 horas para a viagem de regresso. E assim terminaram estes nossos dias na Tunísia. Já apetece regressar a casa. Nem tanto pelo Cristiano Ronaldo, e essas tretas, mas sabia bem um bacalhau com batatas...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Sábado, 27 de Junho

À hora combinada, lá estava a carrinha à nossa espera. Como companheiros de viagem, nesse dia, tivemos dois casais do Porto. Seguimos viagem rumo a Kourbous, pelo caminho ainda passamos por Nabeul, mas só tivemos tempo de dar uma vista geral pela localidade, não fizemos qualquer tipo de paragem. Em Nabeul realiza-se um mercado importante todos os dias, segundo informações que obtivemos. Tínhamos programado visitar este sítio, mas acabamos por não ter disponibilidade. 50 Km depois, chegamos a uma praia interessante. Para além de um mar bonito e calmo, como em Malta as praias eram muito rochosas, com pouca areia. Para lá entrar, sem calçado apropriado era tarefa difícil, havia muito cascalho, que cortava a planta dos pés.

A atracção principal desta pequena praia, a nascente natural de águas termais que jorrava a 60 graus centígrados da montanha, directamente para o mar. Na zona onde a água termal se encontrava com o mar, estava muita gente em banhos, dizem que pelos efeitos terapêuticos das águas. Como é costume aqui, e na maioria dos países islâmicos, as mulheres tomam banhos de mar completamente vestidas. Costumes. Experimentamos, mas para além da grande dificuldade em entrar no mar (por causa das pedras), a grande concentração de pessoas, na maioria tunisinos, não tornava muito agradável a permanência nesse local. Na zona de encontro das águas quentes com as do mar, a temperatura é agradável, o calor vem e logo de seguida vem uma corrente de água mais fria. Sabe bem, mas pessoalmente preferia sempre a água quente. Demoramo-nos pouco neste sítio, que para além desta especificidade das águas, pouco mais tinha de interesse. Viam-se familias inteiras, fazendo piqueniques à beira-mar, com grandes farnéis e uns até acendendo fogueiras. Coisas que deixaram de se poder fazer nas nossas praias civilizadas. Havia outras familias, especialmente uma, em que os senhores mais idosos, se encontravam sentados na praia, à beira-mar, enquanto o seu filho, casado com uma mulher estrangeira, pelos vistos francesa, que se banhava calmamente no mar, trajada com um biquini arrojado. Isto para dizer que há mulheres, mesmo tunisinas, que furam a tradição do vestuário, porque não há lei alguma, escrita, que as proíbe de tal. A censura é a tradição, os costumes, os comentários dos outros, a aceitação da sociedade. Pusemo-nos em marcha, desta vez rumo à praia de Kélibia.
Esta localidade, situada a norte de hammamet e perto do Cabo Bon, tem aspecto de ser uma zona de balnear para, maioritariamente, consumo doméstico. Há muitas casas típicas de fim-de-semana e de férias, alguns aldeamentos turísticos e tudo com um aspecto muito agradável. Ruas limpas, cuidadas, jardins floridos, tudo muito aprumado. Pelo aspecto das habitações e pessoas que circulam nas ruas, deve ser ambiente para a classe média alta e alta. Chegamos à praia e ao restaurante onde iríamos almoçar: com parque privativo, uma tropa de segurança privada à porta e em redor, guardando várias viaturas de alta cilindrada que lá se encontravam. Confirmavam-se os prognósticos, o restaurante, soberbamente bem localizado, sobre o mar, com uma vista espectacular por toda a baía, tanto para a direita, como para a esquerda, praias de areia branca e águas límpidas, de um azul celeste, magníficas. O restaurante, com uma esplanada mesmo sobre uma mar e com mesas sobre as rochas, para pequenos grupos, ou mesmo apenas para um casal, criando naturalmente salas privadas, aconchegantes e românticas, onde, se quisessemos, podiamos molhar os pés em água do mar. De quando em vez, com as suaves ondas, podiam-se admirar pequenos cardumes de peixes que dançavam, como que para alegrar este quadro vivo.
Antes do almoço ainda houve tempo para dar uns mergulhos neste mar caribenho, embora a temperatura ficasse aquém das expectativas, para o cenário ser o ideal. No entanto estava-se perfeitamente bem dentro de água, uma praia em que se podia penetrar pelo mar cerca de 50 ou 60 metros e a água dáva-nos apenas pela cintura. Estivemos nisto durante uma hora e meia e depois fomos almoçar, ao resturante com a mesa já marcada, em cima de uma das rochas junto ao mar.Na rocha ao lado de nós, encontrava-se um grupo de tunisinos, com aparência de bem sucedidos na vida: pela forma de consumo, bebiam vinho, comiam frutos do mar, as três mulheres do grupo, na casa dos quarenta anos, com aparência cuidada e trajando uns simples biquinis atrevidos, até para nós, qualquer dia ainda as supreendiamos a fumar.
O almoço foi óptimo. O restaurante disponibilizava uma variedade razoável de pratos de peixe, marisco e carne, comida típica tunisina, italiana e internacional. Tinha menus fixos, compostos por entrada, prato principal e sobremesa, tudo por 32Dt (aproximadamente 18 Euros); um casal do nosso grupo optou pelo menu fixo e foi-lhes generosamente bem servido uma saladinha de polvo, seguida de uma espetada de peixe com salada e arroz, e uma sobremesa à escolha. Nós optamos por comer como entrada 3 camarões tigre cada um, seguido de um esparguete com frutos do mar e uma posta de Mero grelhada com batatas e salada. À sobremesa comemos um gelado de baunilha, maravilhoso, e uma porção de melão dulcíssimo. Bebemos águas e refrigerantes e no final, ao verificarmos a conta, após a divisão exacta por casal, chegamos a conclusão que poderiamos dividir o total por seis ou por três, que ía dar ao mesmo, pagamos por casal cerca de 80Dt (48 Euros), já com uma generosa gorjeta incluída. Comparando, é impossível resistir a esta tentação, com um almoço nas mesmas condições do serviço que nos prestaram, a qualidade dos ingredientes gastronómicos, o serviço dos empregados e a paisagem paradisíaca, tudo isto vale muito dinheiro, e em Portugal, das raras vezes que temos oportunidade de desfrutar de um ambiente similar, fica uma sensação euromaníaca de gasto desmesurado. Aqui foi justo, e com a sensação de que foi um bom negócio para todos, o que nos serviram e para nós, os contemplados.
Gastamos as horas que restavam até o regresso, com um passeio a beira-mar, contemplando-o e observando as inúmeras famílias que entretanto enchiam a praia. Na hora combinada, regressamos ào hotel, para nos prepararmos para o jantar, que hoje seria num jantar de gala, com espectáculo das mil e uma noites, no restaurante Sherazade. Quando chegamos à medina, onde se encontra o restaurante, ainda tivemos tempo para exprimentar a famosa tatuagem de hena: fomos abordados por um tunisno simpático, nada obsecado em vender a sua arte, e como íamos cheios de intensão de levar essa recordação, deixamo-nos pintar.

Correu bem, a pintura ficou como suponhamos, levou algum tempo a secar, o que nos fez chegar mesmo em cima da hora à porta do restaurante. Situação estranha, reparamos que as pessoas ao entrar, apresentavam bilhetes, que nós não fazíamos ideia, nem sabíamos que eram necessário. Conclusão, depois de dialogarmos com o porteiro, fiquei a saber que nos deveriam ter dado os ingressos para o jantar na recepção do hotel. Lá fui em passo de corrida para o hotel à procura dos bilhetes. Recuperados, voltei ao restaurante, mas dado ao adiantado da hora deram-nos dois lugares numa mesa mais afastada do palco e eu, por azar, vi o espectáculo por trás de um pilar. Foi desagradável, mas foi assim. Não merecia a pena protestar, pois reparei que havia mais casos como o meu e não se vislumbrava solução para este embróglio, uma vez que o grande salão estava cheio, com lotação esgotada. Entretanto o jantar começou, assim como o espectáculo. Não vi grande coisa do espectáculo e do menu, umas entradas com vários tipos de salgados, e depois o prato principal que não convenceu, um cabrito estufado com arros de passas e amêndoas, a sobremesa foi o melhor, um bolo de bolacha com chocolate muito frio e húmido, gostamos. No fim, deixamos a sala com alguma frustração, o espectáculo e o jantar não coincidiam com a nomenclatura que nos referiram, imperdível. Mas gostos não se discutem, como é natural. Acabamos a noite, já no hotel, à conversa com os companheiros de viagem desse dia, do Porto, à volta de um chá de menta na esplanada, a programar o último dia da nossa estada em Hammamet. Em princípio, amanhã será praia e as últimas compras.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

sexta-feira, 26 de Junho

Como previsto, o toque de alvorada foi logo pelas 4:00 da madrugada. Embora aqui, o dia já desse sinais de de querer mostrar-se, com novos desafios. Foi o tempo de se saborear um fausto pequeno almoço, com quase tudo a que tinhamos direito, e servidos por excelentes profissionais de hotelaria. Meia hora depois, já estavamos todos preparados, à porta do hotel, quando súbitamente surge uma caravana de jipes todo-o-terreno, conduzidos por bérberes, com trajes típicos. Não conseguiamos vislumbrar os seus rostos, dentro daqueles lenços multicoloridos que cobriam a cabeça, deixando apenas os olhos à vista. Gesticulando e falando num dialecto incompreensível para todos nós, pareciam pretender indicar-nos o sentido dos veículos. Muitos de nós, apercebendo-nos das suas pretensões, e sem a presença do nosso guia oficial, escusamo-nos a entrar nos jipes. O pensamento era, "e se fôr um rapto?". Num país como aquele, com as histórias que nos chegam muitas vezes aos noticiários...não era impossível de todo. Às tantas, o líder do grupo, tentou passar o telemóvel a um dos excursionistas mas este, esquivando-se, não queria falar. Talvez não entendesse nenhuma das línguas, nem sequer o espanhol. Assim, eu roubei o telemóvel das mãos do mouro e pus-me à conversa com o interlocutor. Era o guia, reconheci-o imediatamente. Para melhor me identificar, disse-lhe que quem estava do outro lado da linha era o Ali Babá . Ele imediatamente reconheceu-me. Falamos um pouco e esclareceu-me que os indivíduos eram os motoristas que nos iriam levar pelo passeio e visita aos dois oásis logo no princípio da manhão. Pediu-me para esclarecer os outros companheiros e seguimos viagem, em direcção aos oásis. Pelo caminho, deu para perceber a paisagem. É impressionante. O oásis supreendeu-nos, pela positiva. Sempre pensamos, pelas imagens que nos chegam dos filmes e documentários que aquilo seria um ponto pequeno, insignificante, no meio daquele mar de areia. Mas não, estes dois que visitamos, foram esclarecedores. O primeiro, era mais turístico. Foi em tempos um oásis com vida própria, mas actualmente as pessoas que lá vivem, sobrevivem exclusivamente do movimento de turistas e das suas receitas. É um oásis que mantém os vestígios de vida. Muitas ruínas de casas e caminhos podem ser encontradas, para além de um sistema de canalizações (canais) por onde a água corre. Há uma nascente natural, no meio das pedras que jorra uns tantos litros de água (não me lembro quantos)por minuto. Esta água, por vezes cai em cascata, mostrando criações naturais magníficas. Nas paredes montanhosas encontram-se vários testemunhos de vida marinha. É assustador pensar que um dia, todo este lugar que o nosso olhar pode alcançar, foi pleno de vida. Sem querer, acaba-se por pensar no futuro. Há, como em todo o país que visitamos, inúmeros vendedores. Aqui, para além de toda a panóplia de artigos encontram-se também disponíveis uma vasta variedade de pedras semi-preciosas. O guia que nos mostrou este local era bastante simpático, muito informado e óptimo comunicador. Para além de tudo, penso que as senhoras ficaram todas maravilhadas pelo charme do bérbere, e pelo carinhoso nome por que eram tratadas, simplesmente gazelas. Não nos retivemos muito tempo neste oásis, pois ainda tinhamos um longo dia pela frente, e já entendiamos porque nos tinhamos levantado tão cedo. Ainda não eram 7 horas e sentia-se no ar um dia quente, a aproximar-se nos minutos. Partimos, contornando os caminhos de volta, até apanharmos a estrada que nos levou até ao segundo oásis que visitamos. Deixamos as viaturas todo o terreno numa pequena localidade e prosseguimos o percurso,de uns 3 Km, transportados em charretes movidas a cavalos. Foi engraçado e divertido, o caminho até ao oásis. Este era um local autêntico. Os habitantes ainda hoje fazem a sua vida quotodiana aqui. A um primeiro nível, mais superior e elevado, encontramos plantações de palmeiras, que por sua vez geram a sombra necessária para a sobrevivência de várias espécies de árvores de fruto, a um segundo nível. No terceiro nível, e junto ao solo, podemos encontrar culturas várias, essenciais para alimentar durante todo o ano, várias famílias. A produção hortícula e frutícola destes oásis é essencialmente para consumo próprio das familias que os exploram, no entanto por vezes os excedentes (principalmente tâmaras, de menor qualidade), são comercializadas. Há água abundante, e chove nestes locais. O guia informou-nos que à pouco tempo, choveu tão intensamente que as grandes quantidades de água provocaram derrocadas em algumas estruturas e algumas famílias tiveram que ser realojadas por organizações não governamentais. O resto do tempo, que não foi muito, deu para conhecer um pouco mais o local, conversar um pouco com os nativos e compar alguma coisa, mais no sentido de os ajudar um pouco do que própriamente adquirir algo com valor acrescentado. Prosseguimos a viagem, que iria, a partir daqui, rumo a Norte, até Hammamet. Fomos subindo, admirando os contrastes na paisagem, deixando para trás a aridez do sahariana e pouco a pouco vislumbrando novamente os verdes campos de olival e variadas culturas. Aqui e ali, rebanhos de ovelhas e algum gado bovino. Alguns rios, muitos deles apenas sazonais. Paramos para almoçar em Gafsa. Não houve tempo para contemplar a cidade, apenas para almoçar e admirar o hotel, em estilo típicamente árabe. Fez lembrar aqueles ricos palácios de um sultão das mil e uma noites. Paredes ricas, com quadros que pareciam sussurar algo. O chão magníficamente coberto por enormes tapetes, com longas horas de trabalho manual, executado integralmente por mulheres, que ainda hoje ainda se dedicam a este velho ofício. Os tectos deste secular edificio, são de uma beleza impressionante, o mobiliário a condizer com o toque sultanesco do local.Mas o tempo foi parco para desfrutarmos plenamente deste belo palácio, aliás, durante todo este tempo de excursão, foi clara a diferença que nós, como portugueses dedicamos ao tempo das refeições: para nós, almoçar, jantar, ou mesmo petiscar, é um momento singular, uma oração, embora quotodiana, nunca se repete. Enquanto almoçamos, conversamos, degustamos, bebemos, e matamos o tempo nisto. Aqui na Tunísia, como em muitos outros sítios, tempo de refeições é como, ter o automóvel a necessitar de mais combustível, para-se no posto de abastecimento e toca a emburcar, até o depósito estar atestado, quando se tem orçamento para tal. Depois paga-se e toca a seguir viagem. Foi o caso, pensamos que demoramos nesta paragem para o almoço à volta da meia-hora. Prosseguimos a viagem, desta vez, iriamos realizar a última paragem, neste tour, para visitar o terceiro lugar mais sagrado dos muçulmanos: Kairouan, localidade onde, históricamente, foi o ponto de partida para a dispersão do islamismo, em África e Europa. Infelizmente, não nos foi possível visitar o interior da mesquita, pois a hora da nossa chegada, coincidiu com a oração semanal mais importante dos muçulmanos, o Jumma. Mas houve tentativas de alguns companheiros de viagem penetrarem nas grades portas do santuário, onde se amontoavam vários pares e tipos de calçado, sendo logo goradas por fiéis guardiões da mesquita. Facto compreensível, a prática religiosa e a fé, não se deverão compadecer perante motivações turísticas e simplesmente curiosas. Há que separar as águas.

Desta forma, limitamo-nos às vistas exteriores e ao ambiente perfumado, aromas exóticos, que os homens e mulheres deixavam no ar, cruzando as vielas em redor da grande mesquita, em resposta ao chamamento para a oração. Até aqui, enquanto uns entregavam o seu espírito aos desígnios de Deus, outros aproveitavam para negociar. As ruas, que cercam esta mesquita, estão atoladas de mercadores que vendem um pouco de tudo. Estratégicamente, existem grandes casas especializadas em tapetes e produtos de artesanato, que pensamos terem alguns acordos com as operadoras turísticas ou então, apenas com os motoristas ou guias. Pois, por várias vezes incentivaram-nos a visitar estes estabelecimentos.

Terminada a rápida visitita à mesquita de Keirouan, fizemo-nos novamente à estrada, desta vez sem interrupções para o nosso destino final, Hammamet. Chegamos ao hotel ainda a tempo de dar um mergulho na sua piscina e apreciar um bom jantar. Estávamos um pouco esgotados, mas com forças para fazer qualquer coisa à noite, agora que já tinhamos, entretanto, travado conhecimento com alguns passageiros da excursão. Depois do jantar, ainda fomos dar uma volta em redor do hotel e acabamos na esplanada a ouvir um pouco de música e a beber um chá de menta. Na manhã seguinte, temos a excursão às praias com areia branca e águas cristalinas, vamos ver se ao passeio tem mesmo lugar, uma vez que pagamos e (como já referi antes), não temos qualquer comprovativo desse pagamento, foi um contrato de palavra. Vamos a ver se não foi apenas palavra de óleo!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

quinta-feira, 25 de Junho

O telemóvel despertou à hora marcada, raiava o dia quando fomos tomar o pequeno almoço. Sem apetite, àquela hora. Se fosse para ír trabalhar, certamente custaria mais, quem corre por gosto não cansa. O autocarro não nos fez esperar, e fomos o primeiro grupo a embarcar. Ainda passamos por mais dois hotéis nas redondezas para ír apanhar mais excursionistas para o Deserto do Sahara. O guia, um tunisino alto e perfeito exemplar da raça árabe, era simpático. Trazia um bigode a "Don Juan", mas era mesmo só esse acessório, foi durante todo o tempo muito profissional. Deu-nos logo toda a informação necessária, enquanto o autocarro saía de Hammamet, sobre a duração do percurso, horário das paragens para visitas a locais de interesse e outras, de ordem técnica. Assim, enquanto a cidade ficava para trás, íamos recebendo a informação sobre as aldeias que cruzávamos e confirmando a mutação paisagística. De um verde, de muitas hortas e olivais (há muita agricultura no Norte), levemente a terra ía-se tornando mais árida e seca. Aqui e ali viam-se rebanhos de ovelhas e cabras, velhas casas, e junto à berma da estrada vendedores de fruta, aves vivas e outros artigos. A via era estreita, uma faxa de rodagem em cada direcção e o tráfego muito intenso. A via para sul que estavamos a percorrer, era o caminho utilizado pelos veículos de mercadorias pesados para o tráfego com a vizinha Líbia, de Mohamar Khadafi (fronteira a sul). Assim, muito frequentemente os passageiros, nós incluídos, viamo-nos a travar com os pés, numa tentativa de ajudar o motorista, tal eram as ultrapassagens mal feitas e perigosas. A velocidade de circulação não era nada coincidente com o estado e condições da via. Mas na Tunísia é assim. E o guia explicou-nos que há pouco acidentes no país, e maioria deles são provocados pelos vizinhos líbios e argelinos. Como nós, desculpamo-nos sempre com a condução dos italianos, espanhóis, etc. Afinal o mesmo argumento de sempre. A primeira paragem, foi em El Jem, onde se localiza o terceiro maior e o mais bem conservado anfiteatro romano (o primeiro e segundo são em Roma e Verona, respectivamente).

Este monumento data do terceiro século a.c. e foi um dos últimos construído pelos Romanos. A sua arquitectura, no que toca aos corredores internos, sistema de entrada e saídas e a disposição dos lugares para os espectadores, é bastante elaborada. Após a era romana, foi utilizado como uma fortificação, principalmente durante a conquista árabe. Como palco de muitas batalhas, foi parcialmente destruído pelos canhões. Tinha uma lotação para 27.000 espectadores e a arena um diâmetro de 64m x 39m. Mas é impressionante, vaguear pelas galerias deste monumento e imaginar as pessoas e trajes do tempo, os animais e escravos a degladiarem-se na arena, os apupos e ovações. À entrada afinal compra-se uma viagem no tempo. Na porta de acesso tivemos que pagar 2 Dt para se poder fotografar, o bilhete já estava incluído no preço da excursão. Não conseguimos verificar o montante, uma vez que para grupos há tarifas especiais.
À volta deste polo de interesse, muita gente sobrevive do turismo. Quando caminhavamos para a entrada, puseram-nos um mapa e uns postais na mão e pediram-nos dinheiro. Sem tempo para argumentar ainda tentamos saber o preço, em vão; tirei umas moedas do bolso e o mercador toca de tirar-me das mãos, assim, sem mais nem menos. Fulmineio-o com o olhar, mas antes que praguejasse algo em bom português, devolveu-me algumas. Sinceramente não sabemos quanto custou o mapa e os postais. Mas acabaram por dar jeito para a viagem. Um outro ainda veio ao nosso encalce e diz-nos que vende um lenço bérbere, daqueles que se usam na cabeça, e um adereço para o prender, por 2 dinares. O preço era justíssimo (para nós claro), aceitamos. Assim que peguei nos artigos, o tipo afiançou-me que afinal não eram 2 mas sim 15 Dt. Imediatamente entreguei os artigos e continuei a caminhar, apressadamente. O bom vendedor veio a correr atrás de mim, baixando o preço, para 12, 10, 8 e eu, sem dizer nada, agarrei novamente nos artigos e em espetei com 2 Dt na sua mão e desatamos apressadamente a andar enquanto o homem, sem reacção, viu-nos a ganhar distância.
Após a visita, tivemos tempo para fazer umas compras e beber um café ou chá. Mas notava-se que até os cafés eram muito improvisados, não havia café normal, só nescafé, que era servido em pequenos copos de higiéne muito duvidosa. Pareciam ter sido lavados com areia, um brilho opaco, se é possível descrever o quadro. Deixamos este local, agora rumo a Matmata, passando por Sfax e Gabes. Durante este trajecto, ficamos a saber que a Tunísia é o 3º maior produtor mundial de azeitona e azeite, depois da Espanha e Itália, desconhecendo entretanto com que qualidade. O sector dos recursos naturais, com potássio, gás natural e petróleo, têm um peso significativo no Pib tunisino. Um apartamento mediano custa cerca de 45.000 Euros; o salário médio é de 250 Euros. Foi numa paragem técnica, enquanto pedia dois cafés expresso, que reparei que o motorista havia pedido algo, leb-leb, para nós desconhecido: numa tigela, tipo uma malga grande, juntaram legumes crús (curgetes, cenouras, pimentos, tudo aos pedaços), um pouco de atum desfiado, farinha de cuscus, alcaparras, azeitonas e um ovo mal escalfado, quase crú. Depois regaram-no com azeite e estava pronto, o motorista misturou os ingredientes e sorveu a iguaria à colherada, de uma forma que parecia não o fazer a séculos. A partir daqui e até ao almoço não paramos mais, avistamos Sfax e Gabes de relance, a partir da estrada. Neste percurso passamos por uma região (que não me recordo do nome) onde vimos peças inteeiras de borrego penduradas às portas dos restaurantes. O guia informarmou-nos que era típico desta região e muito apreciado pelos viagantes, a carne de borrego no churrasco, acompanhada com pimentos, cebolas e tomates também grelhados. Ficamos com pena de não ter testado esta iguaria, mas o restaurante para o almoço já estava marcado e pouco depois lá chagamos. O almoço foi servido: Uma entrada com salada e dois crepes de legumes, seguindo-se um prato de borrego com especiarias e cuscús (típico) e para quem não gostasse de cuscús podia comer esparguete como acompanhamento. Todos comeram de tudo, e quanto a nós, estava bem saboroso. Na tunísia não abusam tanto das especiarias como, das que conheço, na comida goesa, indiana ou mesmo mexicana. Para sobremesa a já habitual melancia, que é farta e muito doce neste país. Os cafés e bebidas não estavam no acordo, assim por um refresco e uma água, um café e um chá de menta, pagou-se 6 Dt. Seguimos viagem, desta feita entramos numa zona montanhosa e árida, tanto de um como de outro lado do percurso, era só pedra. De quando em vez, lá se viam um aglomerado de casas, a julgar pela sua organização, deveriam formar aldeias. Nesta zona, os habitantes, berbéres, pelo menos até um passado não muito longíquo, viviam em casas esculpidas na própria montanha, as chamadas estruturas trogloditas. Foi nestas paisagens que foram realizadas algumas filmagens de películas famosas como A guerra das estrelas.
Actualmente já poucas familías vivem nestas casas, algumas delas, a troco de alguns dinares abrem a porta das suas casas aos turístias para se poder observar de perto como foi a vida por estas paragens. Quando saímos do autocarro, a sensação que deu foi de que tinham aberto a porta de um forno pré-aquecido a 200 graus, e tinhamos que entrar. O ar era muito seco, custava um pouco a respirar. No entanto após penetrarmos no interior da habitação, a temperatura era incrível, parecia que estava climatizada. E estava, só que era naturalmente. Realmente, estes pequenos momentos realçam a elasticidade humana na adaptação. Sem grandes engenharias e tecnologias, num ambiente hóstil à condição humana, os bérberes adaptaram-se de uma forma espectacular. Antes de entrarmos, o guia avisou-nos que íriamos visitar a casa de uma familia que habitava ali. Muito sinceramente ficamos um pouco constrangidos. Achamos humilhante, uma pessoa abrir as portas do seu castelo a estranhos, por uns parcos dinares. Isto deixou-nos a pensar. Nisto veio-nos à ideia, que mais tarde se confirmou, que, pelo menos a familia em questão, não vive na casa, apenas se reúnem lá, para recriarem os modos e costumes das familias berbéres. Ficamos aliviados, de consciência um pouco mais tranquila, se se pode assim dizer. Ainda tive tempo de beber mais um chá de menta (fiquei fã desta bebida), que uma rapariga da família nos ofereceu. Não me fiz de esquisito, mas reparei nos copos: aquele mesmo aspecto, um brilho baço. Contra a maré das vontades, não nos alongamos muito neste local, retomamos o caminho em direcção ao Deserto do Sahara. Quando chegamos ao local, havia hipóteses de fazer o percurso no deserto montando um camelo ou de charrete, em ambos os casos com ou sem os trajes a rigor. Nós optamos pelos camelos e já que ali estavamos, também alugamos o vestuário típico bérbere. Este percurso, mesmo só para turísta ver, tem a duração de cerca de 50 minutos. Mas a paisagem é magnífica. Dá para imaginar o que nos espera para lá do nosso horizonte visual. Até uma espécie de oásis tinha. Foi giro, divertimo-nos bastante, como todo o grupo. Podemos dizer que só por estes momentos aqui passados, valeu, até agora toda esta viagem. Prosseguimos, já estavamos quase no final da tarde, no sentido de Tozeur, o local onde iríamos pernoitar. Neste percurso, atravessamos um grande lago de sal, que comprovadamente foi um mar, milhões de anos atrás. Ainda hoje se podem encontrar frequentemente fósseis de animais marinhos no seu solo. No local onde paramos para captar algumas imagens, refrescar e utilizar os toilletes, havia uma peuqena casa comercial que prestava esses e outros serviços, como por exemplo uma pequena loja com artigos da região: a rosa do deserto é uma rocha que parece uma rosa desabrochada, pode ter vários tamanhos e apresenta uma côr perto do côr-de-rosa. Adquirimos alguns exemplares, só mesmo para recordação, pessoalmente não achamos de grande interesse. Existe ainda no local, um monte de sal, não muito elevado, em que estão penduradas várias bandeiras nacionais. A nossa também lá está.
O sol estava no seu limite, já tinha dado as horas habituais e nós pusemos-nos a caminho de Tozeur, para o hotel Iberostar Palmyre. Quando chegamos, já era noite, e ainda tivemos tempo de tomar um duche rápido antes do jantar. O jantar foi óptimo, aliás como todo o hotel. O pessoal, todos muito simpáticos e prestáveis, emfim, um hotel cinco estrelas, como se idealiza. Mas este só tinha quatro.O critério de atribuição de estrelas, deixa muito a desejar, em qualquer canto do mundo, digo eu.
O recolher neste dia foi cedo, uma vez que o despertar seria às 4:00 da manhã, para prosseguirmos nesta cruzada pelo deserto.

quarta-feira, 24 de Junho

Acordamos, ainda era cedo, invadidos por uma fome de matar o bicho. Descemos para o pequeno almoço, demorado, e revitalizador. Como tinhamos o dia livre, resolvemos fazer uma praia matinal, um pouco de compras e depois do almoço determinamos uma ida à zona central de Hammamet. Assim, apanhamos um dos vários combóios turísticos que partem muito próximo do hotel, e para um percurso de aproximadamente 10Km pagamos 7 Dt pelos dois. Havia a alternativa de apanharmos um táxi, em termos de valor, o preços normal ronda os 7 Dt, mas sempre negociáveis, foi consensual utilizar o combóio, até porque é mais arejado, e o tempo pedia.
Pelo caminho, tivemos oportunidade ver as casas dos habitantes indígenas. A maioria delas estão inacabadas. Ora são as paredes semi-pintadas ou mesmo sem qualquer pintura, ou então é o piso superior apenas com o esqueleto da contrução, enfim, é caso para dizer que mais parecem as nossas obras de santa engrácia. Honestamente, a sensação que dá, é que eles vão construindo as habitações de acordo com os recursos disponíveis: primeiro o básico (1º piso), depois, à medida que vão estando com as bolsas menos leves, vão ampliando as instalações, as pinturas, o piso superior etc. Se fôr assim, faz sentido. Desconhecendo esta matéria, no caso tunisino, não sabendo que apoios terão do sector da banca para construção e aquisição de habitação, mas no caso de inexistência destes apoios (o que não me supreenderia muito), torna-se claro o estado em que as habitações se encontram. No centro das localidades, a situação é mais de acordo com os nossos costumes, as casas parecem ser definitivas (obras concluídas). Chegados ao centro de Hammamet, deparamo-nos com uma azáfama que só visto. Muita gente nas ruas, nos cafés e esplanadas, por vezes improvisadas, só homens, sentados a jogar cartas, a fumar o cachimbo tradicional (shisha) e a beber chá de menta. No princípio, estranha-se a pintura. Paredes brancas, portas e portadas azuis, homens sentados nos cafés, homens e mulheres, vultos que passam atrasados para algo, fica-se com a ideia que falta mesmo qualquer coisa a este quadro. Falta-nos a nós, porque para a cultura tunisina, a mulher não pertence a este meio. Socialmente, uma mulher não é bem vista se frequenta locais onde se joga e fuma cahimbo. Fiquei com a ligeira sensação que em todos os locais que não dependem do negócio turístico, há cachimbo e jogo, mesmo sem ter visto qualquer destes elementos. Assim, e seguindo os conselhos do que visitar, começamos pela Medina.

A princípio é giro, divertido, e dá a sensação que estamos dentro de um filme de aventura, mas aos poucos, fomos enjoando. É engraçado, gostarmos de uma peça de vestuário, pelas suas cores vivas características, pelo material exótico, e ficarmos com a sensação de não saber o valor real, um preço justo, em que todos ganham, quem fez, quem vende e nós potenciais compradores. Uma situação onde todos ganham, parece utópico. Basta um olhar mais demorado para um artigo em exposição para alertar o mercador. "Gostas?" "de onde és?" "Português? Oh meu amigo! Cristiano Ronaldo! Figo! Bacalhau com batatas...!" outra vez a mesma argumentação. À primeira e à segunda tinha sido pura coincidência, mas à terceira já é demais. Ás vezes, aparece um com técnicas mais inovadoras, com apelo ao sentimento, e mete o Eusébio ao barulho. Aí pronto, o gajo armou-nos uma cilada, temos que comprar qualquer coisa, nem que seja para mais tarde deitar para o lixo, ou melhor ainda, presentear aquela colega de trabalho da esposa que é uma chata! Isto é um pensamento que surge num ápice, uma defesa oportuna para nos livrarmos do tipo, o gajo até sabe quem é Eusébio da Silva Ferreira. É um pouco assim. Depois há outros que ao saberem a nossa nacionalidade, afrontam-nos com um "Portugal? Oh, Portugal bancarrota!... portugueses não ter dinheiro!"- isto chateia não? ainda por cima, o gajo não deixa de ter razão. Dá vontade de telefonar para o gestor de conta do BPN e pedir um financiamento para comprar a banca do Mustafa! São muito comuns os que nos pedem para entrar na sua humilde "tienda" apenas para "mirar", mas quando nos apanham lá dentro, ui, é o cabo dos sarilhos para conseguirmos sair sem perder peso na carteira. Depois há aqueles que nos confrontam com uma conversa do estilo: quanto vale um "gobomgom" em Portugal? Nós, olhando um para o outro, pensando cá para dentro, não vou caír nesta..."o que é um "gobomtom"?" respondemos. Ele, astutamente, diz-nos que "não "gobomtom", Mosthar quer saber quanto vale em Portugal um "gobomgom"!". Nós dizemos-lhe que não sabemos o que é aquilo. E pronto, entramos na loja, e desta vez já nem é para mirar, é para percebermos de que artefacto se trata. Mostra-nos um artigo que não existe em lado nenhum, pensamos que nem na Tailândia, e momentos depois estamos a regatear aquele par de chinelos que há trinta segundos atrás não precisamos, e mais, tinhamos a certeza que não compraríamos. Mas emfim, as Medinas não são só isto, há também casas muito características e magníficas, pessoas lindas, trajes bonitos, as cores, o odor a especiarias e incenso que paira no ar, a música árabe lá ao longe, o chamamento para a oração na mesquita da medina, enfim, há uma atmosfera estimulante à fantasia. Entramos, a troco de 2 Dt no museu Dar-Katijha que nos supreendeu numa das ruelas. Não é espectacular, mas dá para apreciar vários objectos de arte e históricos. Conta um pouco de Hammamet, as guerras com os franceses, o vestuário dos antepassados, os equipamentos da altura, enfim, não foi de forma alguma tempo perdido. No último piso (de três), há uma esplanada e uma excelente vista sobre a medina. Ainda na esplanada, há umas almofadas para os visitantes se sentarem e apreciarem uma bebida naquele espaço. No momento da nossa visita, não havia ninguém disponivel para nos servir o tal refresco, nem sei mesmo se na realidade existe essa tal pessoa, pois pelo aspecto do espaço, não parece servir alguém há longos tempos. Depois de conseguirmos sair ilesos das ruelas da medina, não temos a certeza se vimos tudo, mas às tantas as ruas e as lojas parecem iguais, dirigimo-nos para o Forte. É uma fortaleza bem preservada, a beira-mar, com óptimas vistas. No interior, para além de uma loja de artesanato com artigos muito giros e caros, e dos wc, muito higiénicos, há uma sala com alguns quadros com motivos de soldados franceses. Não entendemos o significado, não havia informação nem alguém a quem perguntar sobre os mesmos. Mas o mais interessante do Forte é a parte superior, de onde se obtem uma vista espectacular sobre toda a baía de Hammamet, medina e a própria localidade.

Ao final do dia fizemos o trajecto contrário, utilizando o mesmo meio de transporte, só que desta vez só pagamos 5 Dt, menos 2 Dt. Não entendemos, nem questionamos. Em ambos os trajectos deram-nos um bilhete, e estava lá inscrito o valor que pagamos. No primeiro trajecto devia ser a subir, não reparamos! Aproveitando uma das vantagens que o hotel proporciona, hoje fomos jantar ao restaurante mexicano do hotel Iberostar Chic Khan. O hotel supreendeu pela positiva, muito elegante, fazia lembrar a cadeia de hotéis Bahia Príncipe da Riviera Maya, um hall explêndido, muito alto e profundo, com muita vegetação, tímidamente iluminado, muito sóbrio e luxuoso. O restaurante era pequeno, só aceitava reservas e a comida não foi por aí além, mais uma vez. Contrariamente ao nosso, o pessoal ao serviço era muito simpático e atencioso. Tinha uns painéis que sobressaíam da parede muito curiosos. Depois do jantar, resolvemos ir cedo para a cama, no dia seguinte teriamos de nos levantar às 5:00 horas da manhã, uma hora depois já estariam à porta do hotel para nos apanharem para a ida ao deserto. Saíu-nos gorada a intenção, pois era noite de Karaoke, e desta vez, como estava uma noite perfeita de verão, seria lá fora na esplanada. Claro que com o ruído e as vozes para esquecer dos participantes, não nos deitamos antes das 24:00 horas. Ouvia-se muito cantar em português, "Mãe querida mãe querida...". Adormecemos entretanto.